segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Seca deixa 180 mil sem água no Sul do país

A seca no Rio Grande do Sul dura dois meses e começa a causar prejuízos nas lavouras e na pecuária. A cidade de Bagé já enfrenta o racionamento de água. A equipe do JN no Ar foi até lá para conhecer de perto as consequências desse longo período de estiagem.
O repórter André Luiz Azevedo falou, ao vivo, da região. O que a equipe viu no local, ao longo do dia, é um cenário de muito contraste. É uma região muito rica, de agricultura muito desenvolvida, e, ao mesmo tempo, está faltando o mais básico: água.
Por volta das 20h30, a parte alta da cidade de Bagé ainda continuava debaixo de sol. A região está bem longe do Equador e, na região, o dia é bem mais longo.
A seca da região é diferente do que se costuma ver, principalmente no Nordeste. É uma seca onde o campo está verde, mas falta água para agricultura, para criação e, principalmente para as pessoas beberem em algumas regiões da cidade e do interior.
O Jornal Nacional já mostrou, nos últimos dias, várias reportagens sobre a seca na região, mas a situação se agravou muito e, por isso, o JN no Ar foi para lá.
Durante todo o dia, o repórter conversou com técnicos, moradores da cidade, moradores do campo, produtores rurais, pessoas que estão sofrendo com a seca. A reportagem foi feita com apoio da afiliada no Rio Grande do Sul, a RBS TV.
O JN no Ar desembarcou no aeroporto de Bagé, no extremo sul do país, no início da madrugada. As seis pessoas da equipe levaram na bagagem equipamentos que pesam 230 quilos.
Nas primeiras horas da manhã, a equipe partiu para mostrar a seca que atinge a região, na fronteira com o Uruguai. A estiagem afeta pelo menos 26 municípios gaúchos. Em sete deles, onde vivem 183 mil pessoas, a situação é mais grave.
Uma área conhecida pela fartura e riqueza, que tem terra fértil para produção de grãos, gado nobre e os mais luxuosos haras de criação de cavalos de corrida do país e onde agora falta água.
“Essa seca prejudica o solo, endurece o solo. E principalmente problema de cascos que as éguas e os potros estão sofrendo, com rachaduras de casco, com solo muito seco”, disse o veterinário Márcio Leal.
É nessa região do Rio Grande do Sul, de terras férteis e campo rico, que agora a água começa a chegar de caminhão pipa, uma cena que costuma ver apenas no Nordeste.
Já são 600 famílias na área rural do município de Candiota que precisam receber água. Oito caminhões não estão dando conta do abastecimento e foram alugados mais quatro.
Quando a água chega, é uma alegria para Dona Ilma, de 72 anos, e que mora no local há mais de 40. A pequena barragem da propriedade praticamente secou. Não dá nem para bicho beber. Eles dependem mesmo da água do caminhão.
“A água que chega no caminhão pipa serve para todo gasto da casa. Para cozinhar, para tomar. Só para isso”, contou ela.
Enquanto isso, o vizinho Cleidemar anda mais de cinco quilômetros de trator para encher dois galões e levar pra casa.
A produção leiteira da região caiu pela metade. “Está cada vez ficando pior”, disse um morador.
Em apenas um município, vão ser menos 100 mil toneladas de arroz. “Isso trará problemas sérios sociais, desemprego, circulação de renda no nosso município e também menos alimentos a disposição do brasileiro”, destacou o produtor rural José Pötter.
A situação se agravou e o racionamento de água em toda a cidade começou no início da semana. Agora, uma avenida que divide: do lado direito, fica sem água até o meio da tarde. Depois, o lado esquerdo, do meio da tarde até a madrugada. De qualquer forma, toda a população de Bagé fica sem água nas torneiras.
“Na minha casa são três pessoas. Só tem água de noite”, contou um morador.
Na cidade de 120 mil habitantes, quem sofre mais são os moradores da periferia. Nas casas, a caixa d’água pequena não garante o abastecimento o dia inteiro. A dona de casa diz que precisa economizar no banho e deixa a louça acumular na pia até a água voltar.
“O problema é que a gente trabalha e quando chega em casa, bem cansada, quer tomar um banho, mas não tem água”, destacou Leila de Almeida.

O abastecimento de Bagé vem de barragens que captam a água da chuva. Com a longa estiagem, as represas estão com o nível muito abaixo do normal.
O que acontece no Rio Grande do Sul é reflexo do fenômeno climático conhecido como La Niña, que esfria as águas do Oceano Pacífico e reduz o volume de chuva no Sul do Brasil.
“O fenômeno La Niña deve continuar, no mínimo, durante todo o verão. Existe a possibilidade dele enfraquecer a partir do outono. Isso não significa que durante todo esse tempo não vai ter chuva. Mas existe sim uma tendência delas serem abaixo do normal”, explicou o meteorologista do INPE Marcelo Seluchi.
E no meio desta temporada de seca, de repente começa a cair uma garoa fina. Ainda não dá para encher os reservatórios e acabar com o racionamento, mas já é uma esperança, principalmente, para os animais que estão sofrendo com a seca. Mas enquanto ela não chega com força do céu, a alegria da água tem que vir mesmo é no caminhão-pipa.
“Fico bem contente quando chega um pouco de água!”, contou Dona Ilma.
Ao contrário do extremo sul, outra região do próprio Rio Grande Sul sofre com uma situação totalmente inversa: com o excesso de água. No extremo norte do Rio Grande do Sul, perto da divisa com Santa Catarina, a cidade de Barão de Cotegipe decretou estado de emergência por causa do excesso de chuva. Lá foram 150 km de estradas destruídas por causa do excesso de água.
E próximo de Barão de Cotegipe, outra cidade importante do Rio Grande do Sul, a cidade de Passo Fundo também sofreu muito por causa da água. Lá as águas inundaram várias ruas e causaram muitos problemas para a população.
Nesta região do norte do Rio Grande do Sul, não há problemas de falta de água, os reservatórios estão completamente lotados.

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