Moradores de área destruída em Teresópolis ignoram risco e pensam em ficarApós chuvas, moradores do Caleme pretendem continuar no bairro
Diversos moradores do bairro do Caleme, um dos mais afetados pelas enchentes e deslizamentos na cidade de Teresópolis (região serrana do Rio), deixaram suas casas devido aos riscos de ficar no local, enquanto outros ignoraram o perigo e resolveram permanecer.
A casa do motorista autônomo Manoel Lourenço, de 42 anos, fica sobre um morro e suas fundações estão muito próximas ao curso do rio que transbordou na madrugada da última quarta-feira, destruindo dezenas de moradias.
No dia em que a enxurrada passou, Manoel e sua família - a mulher e dois filhos - buscaram abrigo em uma igreja evangélica situada no Caleme.
Todos ficaram assustados com o volume de água, mas acabaram voltando para casa depois. Embora sua residência esteja praticamente sobre o rio, Manoel diz não temer o pior.
'A estrutura aqui aguenta a pressão da água', afirmou o morador à BBC Brasil, se inclinando sobre a mureta da área de serviço, na parte de trás da casa, e apontando as marcas que a lama deixou na parede, alguns metros abaixo.
Além de estar perto do rio, a construção fica de frente para uma encosta. Ainda assim, Manoel não vê riscos.
'Aqui onde nós estamos, não corremos esse risco que muitas pessoas estão falando', afirma.
'Tem local que você sabe que o barranco pode cair a qualquer momento, mas eu tenho uma segurança, que é confiar em Deus. A nossa confiança está nele', diz Manoel.
`Inimigo'
Embora não tema os deslizamentos, Manoel Lourenço tem receio dos saques, que, segundo ele, estão ocorrendo no bairro - e que também foram relatados por pessoas de outras localidades de Teresópolis.
'Sair das casas nesse momento é abrir as portas para o inimigo. Não é para se precipitar e sair por aí desesperado', diz.
'Nós não queremos sair do nosso bairro. A catástrofe não está localizada só no Caleme, ela está em outros pontos da cidade e em cidades vizinhas.'
Manoel está hospedando a sua mãe, Maria José Lourenço, de 61 anos, que teve sua casa destruída por um deslizamento no Caleme.
Ela saiu do lugar a tempo de se salvar, buscando refúgio na propriedade de um vizinho. Maria José diz que, quando comprou o terreno de sua residência, há 22 anos, sabia dos riscos que corria.
'Comprei por que era barato, era na beira do rio, mas já comprei pensando no perigo da barragem', afirma ela, citando a barragem da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), que traz medo aos moradores devido ao suposto risco de rompimento, que causaria uma inundação semelhante à ocorrida na última quarta-feira.
'Agora, 22 anos depois, aconteceu esta tragédia, e não teve nada a ver com a barragem', diz Maria José.
A exemplo do filho, ela quer permanecer no Caleme, mas admite que tem medo de voltar para seu antigo terreno e pretende encontrar um lugar mais seguro no próprio bairro para se instalar.